AFLIÇÃO

          O nome do amigo de infância exposto na forca inquietava Estefânia que tivera uma tarde de aula agitada. Deixando o prédio escolar, seguida pelos cinco alunos, ao adentrar a Praça da Forca, trajeto forçado, estancou os passos e ficou olhando para a cena que a deprimia: “Bil Uil”. – exposto na forca. 
          Meditando, convicta, onde estaria escondido, a pequena Sara, de seis anos de idade, filha do James com a segunda jovem esposa, disse que Bil Uil iria matar todo mundo.
          −… Não vai nada… – replicou Estefânia pensativa.
          −Vai sim. Carrega um canhão na cintura.
          O filho do Isaac, Leon, de quinze anos de idade, disse que a culpa era do pai dela.
          −E do seu também… – replicou imediatamente Sara.
          −O meu pai não é assassino.
          −É sim. Foi ele que matou os pais de Bil Uil.
          −Mentira, foi o seu.
          −Chega! – gritou Estefânia.
          Obedecida, ainda meditou. Olhou mais uma vez para o nome “Bil Uil” e os convocou a voltarem a segui−la. Então, caminhando, a sobrinha do prefeito Emily deixou a fila e, ao lado dela, perguntou:
          −A senhora ama Bil Uil não é, professora?
          −Por favor, Emily.
          −... A senhora é bonita, professora.
          −Obrigada, Sara.
          −Quando eu crescer, serei igual à senhora?

MINUTOS CONTADOS

          O algoz Dylan estava com os minutos de vida contados. O feixe de luz que escapava da janela aberta clareava o tronco da árvore em que Bil Uil encontrava−se omisso. A propriedade estava guarnecida por quatro protetores recentemente contratados: dois na frente da residência e dois na lateral. Bil Uil, omisso, aguardava que a esposa do gorducho estivesse mais distante. Ela havia ido à igreja do pastor Isaac. Tinha em mente aplicar o banal, mas eficiente truque do arremesso de pedras. Voltou a olhar para a lateral da casa. As duas janelas permaneciam fechadas e a terceira, por onde escapava o feixe de luz, permanecia aberta. O vento daquele início de noite balançando a fina e transparente cortina azul proporcionava agradável cena. No interior daquele recinto, Dylan se encontrava sentado por detrás da carteira fazendo anotações nos livros contábeis. Lançou mão de uma pedra, mas logo a abandonou, já que a mesma estava infestada de formigas. Com mais atenção, lançou mão de outra pedra livre e a atirou na mata, no lado esquerdo. Os protetores, que eram os Carambolas, olharam-se e seguraram o rifle com maior afinco. Atirou a segunda pedra. Um deles foi espiar. Atirou a terceira um pouco mais distante. O curioso protetor chamou o companheiro. Eles, então entretidos, mirou a distância a qual teria de vencer em três saltos, ganhou coragem e, como um gato, se lançou. A cortina bem que atrapalhou, porém, a salvo, estava diante do gigante Dylan, calibre 76 em punho e indicador nos lábios.
          −… ! – o gigante senhor Dylan, boca aberta, olhos arregalados, pálido e petrificado por detrás da carteira.
          Ainda com indicador nos lábios, ajeitou o chapéu que fora importunado pela cortina, ordenou que fosse à janela, cumprimentasse os dois homens com afável sorriso e, em seguida, a fechasse. No entanto, ao observar notável habilidade do gorducho, advertiu:
          −Poderei morrer, no entanto você morrerá primeiro. Portanto, obedeça como ordenei, até porque, a depender de nossa conversa, poderei mudar de intenção.
          O robusto homem lhe obedeceu.
          −Agora, sente-se. – ordenou quando retornou.
          −… Por favor, senhor Bil Uil! – implorou.
          Como se fosse um cão pronto para lançar−se contra o inimigo, Bil Uil o olhava.
          −Por favor, senhor Bil Uil.
          −Tal súplica, senhor Dylan, não me convence, recorda-se? – fustigou.
          −Fora Manarry que nos envenenou.
          −Entenda, senhor Dylan, os seus pais. Os pais dos seus pais, os pais dos pais dos seus pais, sabiam que não havia ouro nas terras dos meus pais.
          −Manarry estava consciente da convicção da Aneline.
          −Convencida do sonho da Aneline. – afirmou Bil Uil.
          −Não, não, não.
          −Fale baixo.
          −Leviana, essa história de sonho, é mentirosa, senhor Bil Uil. O primo da Aneline era minerador. Através de estudos, concluiu que havia ouro nas terras.
          −Está mentindo, senhor Dylan.
          −Não, não estou… Juro que não estou, senhor Bil Uil.
          −Muito bem! Mas porque não aceitaram a proposta dos pobres inocentes? Queriam apenas dez por cento do que fosse extraído. Era o que eu escutava.
          −Manarry era uma peste.
          −E o que havia de tão engraçado naquela noite para você se borrar de rir?
          −Manarry era palhaça.
          −Manarry era tudo, senhor Dylan.
          −Por favor, senhor Bil Uil.
          Bil Uil, com fisionomia fechada, olhando-o, parecia ouvir as gargalhadas daquele sujeito diante das respostas às cínicas perguntas do Xerife, ora revezada por Isaac: “Eles, Dylan, não querem assinar o documento da venda das terras”. O cão feroz estava prestes para atacar. Seus olhos estavam vidrados.
          −Por favor, senhor Bil Uil! – com o rosto encharcado de suor.
          Um estrondo se ouviu: BUM!
          Ecoado na casa de pedras. Aquecida pelo brando fogo da lareira, a família Lewis jantava.
          −Escutou, papai? – perguntou Roy.
          −Escutei, Roy.
          −Você vai morrer.
          −Por favor, Roy. – pediu a madrasta.
          −É verdade, papai vai morrer.
          A pequena Sara disse que estava com medo.
          −Com medo de que, pirralha? – indagou Roy.
          −De morrer.
          −Quem mataria você?
          −Bil Uil.
          −Não confia nas palavras da vaquinha?
          James quis saber quem era vaquinha.
          −A professora Estefânia, papai.
          −Por favor, Roy.
          −Conte a papai o que você me disse, irmãzinha. Fale com ele o que foi que a vaquinha da sua professora lhe falou.
          −Ela não é vaquinha.
          −É sim. O que foi que ela disse?
          −Que Bil Uil não vai matar ninguém.
          −Viu, você, papai, o que é ingratidão? Não foi você que conseguiu oportunidade para que a vaquinha da Estefânia lecionasse?
          −Vamos continuar jantando, Roy.
          −O apetite passou, papai. O mundo ardendo em chamas, você no corredor da morte e diz: “vamos continuar jantando, Roy.” Deveríamos tomar conhecimento da situação e não ficar olhando para a cara patética da Sara.
          −O que é patética, mamãe?
          −É uma coisa que você não é, meu anjo.
          −É sim. – afirmou Roy.
          A jovem madrasta, irritada, largou os talheres sobre o prato.
          −Por favor, Roy! Hoje você está insuportável.
          James socou a mesa, passou o guardanapo na boca, levantou−se, apanhou o rifle e saiu. Roy o imitou. Não escutando a musiqueta cantarolada por Sara: “Vaquinha que não gosta de vocêêêê”.
          −Que conversa é essa, Sara? – quis saber a mãe.
          −Nada, mamãe ... Jura que não conta?
          – Juro.
          Ainda na porta da casa, um dos protetores informou aos patrões o nome do executado.
          −Viu, você, papai, e ainda queria permanecer à mesa enchendo o bucho. – disse Roy montando.
          Ao chegaram ao local, de pouca luminosidade, o Xerife já se encontrava. Havia muitos curiosos. Alguns, ao deixar a residência, se dirigiam para um canto qualquer e vomitavam, provocando a reação de Roy:
          −Olhando para a cena, papai, o que se imagina que havia na cachola do Dylan?
          O Xerife balançou a cabeça e disse que se encontravam no exato lugar onde a peste tinha ficado. Os protetores eram Carambolas …
          −Não tenho culpa pela contratação. – esclareceu Roy.
          −… Contaram o ocorrido e estão presos.
          Isaac, que havia deixado a residência, atravessou o pequeno portão, então aberto, uniu−se a eles e disse que o quadro era mais deplorável do que o de Manarry.
          −Morrera sentado. Há crânio espalhado por todo canto.
          James perguntou como Bil Uil havia escapado. Roy intrometidamente respondeu:
          −De fácil conclusão, papai: com a explosão, os protetores adentram. O órfão aproveitou e escapou.
          −Parece que foi isso, Roy. – concordou o representante da lei.
          −Sempre acerto, senhor Xerife.
          Disse o Xerife que o juiz havia intimado o prefeito. James quis saber o motivo, o Xerife ergueu o chapéu e coçou a cabeça, Isaac o acudiu.
          − Os protetores relapsos provavelmente serão enforcados.
          O prefeito, em poder de um envelope, havia estancado os passos e os observava. Ao perceber que haviam silenciado, aproximou−se com a sentença batendo nos dedos. Saudou-os e a entregou ao Xerife. Abriu o envelope, leu a mensagem, meditou e disse:
          −Manteve o entendimento. Serão enforcados ainda hoje. – pediu licença e se afastou.
          A corriola o seguiu. O prefeito, propositadamente, perguntando quem ficaria à frente da situação da residência obteve a resposta que seria Barney.
          Abandonado, observando-os, a esposa aproximou−se e comentou:
          −Gente bizarra.
          −Os “responsáveis” pela morte do Dylan serão enforcados… Os Carambolas, andam atrás de um motivo para invadir a cidade. Uma invasão acontecendo, a boa vida deles acaba. Estão enriquecendo assustadoramente. Negociando a madeira extraída ilegalmente da zona dos Maus Espíritos, terras pertencentes aos Carambolas.
          −O juiz não observou isso?
          O prefeito sorriu.
          −O casal Blake e Luanda conhecem muito bem as manobras covardes do juiz.

CAPÍTULO - V
INÍCIO DAS PROFÉTICAS PALAVRAS DE DAM


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