COMOÇÃO E MEDO

          Aguardando por decisão dos familiares, o corpo de Manarry, coberto com um lençol, permanecia no mesmo lugar. Dançarinas, jogadores e beberrões, tragando uísque na garrafa, inconformados lhe faziam companhia. 

           −… Miserável…
          E, quando quatro identificáveis detonações romperam o silêncio da madrugada, alguém, com uma garrafa de uísque erguida gritou:
          −Morte a Bil Uil!
          Já havia convicção de ter sido Bil Uil, o autor.
          −Apareça aqui, seu desgraçado!
         Ao retornar para a cama depois de ter acordado com os estampidos e espiado, através da janela, a movimentação da rua, a esposa do prefeito, confessa:
          −Estou temerosa.
          −… Fora Bil Uil, certamente anunciando execuções por fazer. Recordo-me do dia que partiu, foi deprimente. Não deveriam ter feito aquilo com os senhores Clinton e Barbra.
          – Acordou com as detonações?
          –…
          −Ia falar uma asneira.
          −Fale. – concordou o esposo.
          −Ouvi dizer que o casal de forasteiros são hoje proprietários de uma grande tecelagem. Portanto, deveria agradecer pela sorte.
          −Por favor, Alyssa.
          −Cultua vingança?
          −Claro que não.
          −Então?

O DIA NASCIA

          Poeira em suspensão, cavalos, charretes e carruagens. Carambolas rebeldes em trajes típicos perambulando e forasteiros misturados aos nativos tylidenses indo e vindo.
Contrariando a rotina de duas décadas, o Salão Manarry amanhecera como se fosse uma caixa selada. Na faixa negra estendida na fachada uma mensagem prestava−lhe a última homenagem: “Descanse em paz, Manarry.” Ao pé do vaivém, cuja porta de verdade encontrava−se cerrada, impedindo acesso ao estabelecimento, havia coroas de flores e cartas.
          Comentou a elegante senhora para a amiga ao passar à porta do em luto salão.
          −Dama? Uma desqualificada vadia essa é a verdade. Vadia em vida e na eternidade, é fato, querida… Andou se jogando para o seu marido, não foi?
          −Por favor, amiga.
          −Uma ambiciosa que levou a sério o sonho da pouco recomendável Anelise de que nas terras dos pobres Clinton e Barbra havia ouro.
          –Fora sonho?
          – “Sonho” da romena.
          Não distante dali, Roy, filho do primeiro relacionamento de James, por detrás da mesa instalada na porta do escritório do Xerife, contratava homens para protegê−los.
         −Como está, Roy? –saudou-o o senhor Dylan.
          −… Bem…
          Adentrou o escritório.
          −Forcas batizadas com sugestivos nomes, senhor Xerife: “BIL UIL”, “AMIGO”. Gostei!
          −… Agradecido… – replicou o representante da lei atento ao que fazia: desmontando uma arma travada.
          –E o senhor Roy contratando homens para nos proteger.
          −O estrume não pode escapar.
          Quis saber em que pé estava o corpo da francesa.
          −Parentes estão decidindo. – respondeu o Xerife.
          −Incômoda à situação criada por ela mesma.
          −… Como assim? – indagou o Xerife.
          −Pediu para que o garoto fosse poupado.
          James, que também estava presente, não gostando da conversa, reagiu:
          −Pediu a você, senhor Xerife?
          −A mim, não.
          −A quem pediu?
          −…
          −Conversa da vadia nos meteu na enrascada e quis esnobar de boa samaritana. Numa de nossas noites, com choro fingindo, contou que havia pedido que o pequeno Bil Uil fosse poupado. Perguntei a quem tinha pedido e ela desconversou. Uma vadia de marca maior. Que Deus a tenha no fogo do inferno é o que desejo.
          −… Prato ruim, senhor James? – perguntou chocoso o Xerife.
          Houve risos. Dizendo, levantando−se Isaac:
          −Foram quatro disparos que o desgraçado efetuou durante a madrugada. O órfão está tentando nos intimidar. Sei que, tão logo coloque as mãos no desgraçado, entregarei aos famintos porcos do Elton. – enfatizou o pastor Isaac, apanhando a bíblia e o chapéu que estavam sobre a mesa e se retirando.

CAPÍTULO - IV
AFLIÇÃO

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