INÍCIO DAS PROFÉTICAS PALAVRAS DE DAM

          Às 21:00min horas, o Xerife, irado, observava Barney cumprir o único preparativo para os enforcamentos: cobria com um pano as inscrições existentes nas tabuletas das forcas “BIL UIL”, “AMIGO”. 

          −Está bom, Barney! – gritou ele.
          Os Carambolas rebeldes eram inexpressivos por vida. Havia pouco público. O prefeito, acompanhado pela esposa, se fazia presente. Os sentenciados, com cordas nos pescoços, aguardavam que um tiro fosse disparado. Tylide mantinha tal tradição. Teria que haver um disparo efetuado por alguém visível ou omisso para que a execução acontecesse.
          −Um tormento isso. – comentou alguém do público.
          Houve um disparado. Barney acionou a manivela, os pisos falsos abriram−se e os corpos ficaram pendurados nas cordas.
          −Que Deus os tenha! – desejou uma senhora.
          Execução encerrada, trataram de abandonar a praça deixando para trás Barney que, juntamente com outros homens, providenciavam a remoção dos corpos dos executados.
          O prefeito e a esposa seguiam a pé para casa. Em dado momento, o prefeito pediu para que ela olhasse para o céu... Indelicadas mensagens em fumaças emitidas pelos Carambolas.
          −… Que destino será dado a Manarry? – perguntou a esposa.
          −Encontra−se embalada e será enviada de volta ao país de origem.
          −É verdade que encontram maços de dinheiro no colchão?
          −Sempre cavou riqueza.
          Ela sorriu e disse que a verdadeira história sobre a existência de ouro nas terras dos pais de Bil Uil continuava mistério.
          −Nunca houve mistério, Alyssa. Imaginação da vidente Aneline. Manarry levou adiante como se fosse verdade. Como disse, sempre cavou riqueza.


SURPRESA

          Estefânia, ao retornar do armazém e avistar os três conhecidos cavaleiros trajados com roupas medonhas à porta da sua casa dialogando com a criada, desacelerou a charrete e, sob a frondosa árvore, ficou os observando.
          −O que o estrume está dizendo? – perguntou o senhor Isaac, não entendendo os gestos da Carambola muda.
          −Que a senhorita Estefânia não se encontra. – respondeu o Xerife.
          −Parece uma maluca gesticulando. Pergunte sobre seu paradeiro.
          Obedecida à ordem, a Carambola serva abriu as mãos a dizer que não sabia.
          Estefânia, através das rédeas, ordenou que o animal se movimentasse. Aproximando−se os conhecidos cavaleiros, que já estavam de partida, retiveram−se e ergueram chapéus a cumprimentado.
          −Bom dia, senhores. – retribuiu Estefânia com um sorriso.
          −Bom dia, senhorita.
          −O que desejam?
          O Xerife meditou e disse:
          −Desculpe-me importuná−la, senhorita, está havendo uma caçada. Desejo, então, saber qual o seu relacionamento com o gângster Bil Uil?
          −Não estou entendendo, senhor Xerife.
          −Qual a certeza da senhorita que Bil Uil não vai matar ninguém?
          Estefânia meditou e perguntou:
          −Quem lhe contou isso, senhor Xerife?
          −Não importa, senhorita.
          −Preciso saber, senhor Xerife, porque, nesse diálogo, poderia ter havido desentendimentos que resultaram na compreensão de que foram os senhores James e Isaac que assassinaram os pais de Bil Uil. Fato em que jamais acreditaria. Manteria fiel convicção do convencimento da população da cidade de que os senhores lutaram desesperadamente para que eles não se suicidassem.
          −É a verdade, senhorita.
          −Estou convencida, senhor Xerife.
          −As pessoas falavam demais, senhorita. – justificou o senhor James.
          −Eu sei… Quanto à possível afirmação de que Bil Uil iria matar todo o mundo faria sentido uma reprovação: uma única pessoa matar todo mundo é impossível, não concorda?
          −O real propósito da visita, senhorita Estefânia – disse o Xerife. – É para saber se faz ideia onde o foragido poderia estar escondido.
          −Arrisco dizer, senhor Xerife, que, na casa da antiga propriedade dos pais, que, mesmo em ruína, continua de pé. Entretanto, acho que seria falta de inteligência por parte dele.
          −Não tinha pensado nisso, senhorita.
          −Basta raciocinar, senhor Xerife.
          −Agradecido.
          −Uma honra ter me colado ao lado da lei, senhor Xerife.
          Ergueram chapéus e partiram.
          −Uma graça essa garota.
          −Criança não sabe manter o diabo da língua dentro da boca.
          Estefânia ficou olhando−os… Com ajuda da criada esvaziou a charrete, colocou comida no prato, enrolou com pano e pediu à Carambola que se mantivesse muda. Montou no cavalo e partiu. Eles poderiam até ter se dirigido para a ex-propriedade dos pais de Bil Uil, porém, atingir a Caverna do Lobo, jamais. Além de ser uma mera caverna, estava situada dentro da imensa ex-propriedade que era cortada por uma rota de uso dos Carambolas fiéis. Trajeto vencido, o desagradável era subir até atingir a toca.
          −Vamos, bendito sun. – pediu ao preguiçoso animal chamando−o pelo nome.
          Venceu e alcançou a pequena clareira… A caverna estava adiante.
          −Bil? – chamou.
          −…
          −Apareça. Sou eu, Estefânia. Sei que está aí.
          Bil Uil surgiu e ambos ficaram se olhando.
          −Está faminto, não é? Há garfo e faca. Leitão assado ao molho de pimenta mexicana. Não tão ardiloso. – entregou-lhe a comida.
          Bil Uil, faminto que estava, agradeceu, dirigiu−se para uma pedra. Sentou−se, desatou os nós e passou a comer… Estefânia, esfregando os braços, limitou−se a contemplar a nostálgica paisagem. Quando garotos, acompanhados dos pais que eram amigos, passavam finais de tardes ali… Caminhando lado a outro, olhava-o e contemplava a montanhosa paisagem. Desejava iniciar uma conversa, mas não sabia o que dizer. Dezesseis anos haviam se passado e as fantasias de criança não se ajustariam naquele momento.
          −Saboroso. – disse Bil Uil quando ela o olhou.
          Iria arriscar alguma coisa. Decidiu. O pior que poderia acontecer seria sua expulsão.
          −Por que isso, Bil? – perguntou.
          −... Como estão seus pais?
          Corou e respondeu:
          −Bem. Encontram−se no estrangeiro a negócio. A plantação de milho vai de vento em popa. O comércio está expandindo.
          −Soube que leciona.
          −Dam?
          −Ele mesmo. Contou−me inclusive coisas gratificantes que me deixaram feliz.
          Delicioso abraço. Porém, não mais entraria na privacidade, já tinha demonstrado que o assunto era dele.
          −Gostou do assado? – perguntou esquecida da aprovação.
          −Excelente. Você que preparou?
          −Preparei a embrulhar… Brincadeira. Fiz com ajuda de Anis.
          −Anis?
          −Uma criada Carambola. É muda, porém escuta.
          −Bem servida.
          Bil Uil, saciado, elogiou a refeição. Embrulhou os pratos como recebera, levantou-se, colocou sobre a pedra e adentrou a caverna. Ao retornar bebendo água no cantil, após matar a sede, disse que nada o impediria de fazer o que era para ser feito. Sabia que amanhã iria se arrepender, porém, entre fazer e não fazer, optou por fazer ciente de que seria um arrependimento menor.
          −Concorda? – perguntou ele.
          −Com a franqueza. – replicou Estefânia.
          −Estamos conversados?
          −Claro que sim.
          −Agradeço pela presença e pela refeição. – disse ele.
          −Já estou de partida.
          Bil Uil, no entanto, ratificou a ênfase:
          −Não pedi para que fosse Estefa.
          “Estefa…” Olharam−se penetrantes.
          −… Pretende ficar até quando? – perguntou ela.
          −Até completar o serviço.
          Desapontada, apanhou os pratos e se dirigiu para a montaria. Em cima do cavalo ficou observando-o.
          −Dam em nada mentiu. – disse ele.
          −Dam em nada mentiu?
          − Formosa.
          −… Até…
          −Até! – retribuiu ele acompanhando−a com um olhar.
          Não foi um reencontro ruim. No entanto, deixou o local angustiada.

CAPÍTULO - VI 
AVISO

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